(#33) Bang, peixe, fogo
G:
- Fogo, parece a gozar!
- O que foi? – perguntou-lhe a amiga.
- O meu horóscopo! Está igual! É tudo verdade!
Isabel odiava aquilo mas há coisas que não dizemos aos nossos amigos. Há felicidades que não se estragam, por muito sépticos que sejamos.
- Não queres saber o teu?
- Diz lá, então.
- És o quê?
- Peixes.
E a amiga começou a ler. Tretas, balelas e merdas para fazerem uma pessoa sentir-se bem. Palavrinhas aleatórias, coladas com cuspo ao mês em que nascemos para nos sentirmos especiais. Ia dizendo que sim com a cabeça e com o sorriso até que ouviu aquela palavra.
- ...e é por isso que deve ter cuidado com o estômago.
Bang. E não é que o horóscopo sabia exatamente que notícia tinha para dar à sua amiga?
∞∞∞
R:
Tinha-se acabado tudo. E agora, enquanto via o fim a chegar e a levar tudo consigo, não podia evitar ouvir as vozes dos outros na sua cabeça.
A tua mania de não descansar, dir-lhe-ia a mãe.
A tua mania de não querer companhia à noite, dir-lhe-ia a namorada.
A sua mania de chegar tarde ao trabalho, que o obriga a ficar a fazer noitadas para acabar tudo, dir-lhe-ia o chefe.
BANG! A fachada do prédio ruía à sua frente, enquanto as chamas lambiam as paredes e tomavam conta do telhado. Seria quase bonito, se fosse num filme. Seria quase heróico, se tudo tivesse acontecido por qualquer outro motivo que não o de ter adormecido com o peixe no forno.